Resumo
A partir da próxima semana, o Google permitirá que crianças menores de 13 anos com contas supervisionadas pelo Family Link usem o chatbot Gemini para ajuda com lição de casa, criação de histórias e respostas a perguntas. Com guardrails para limitar conteúdo inadequado, o Gemini visa apoiar a educação e a alfabetização digital, mas enfrenta críticas por riscos de privacidade, erros factuais e impactos emocionais. O artigo explora os usos do Gemini, seus benefícios, como apoio educacional, e desafios, como a segurança de dados e a regulação insuficiente, destacando a aposta do Google em capturar jovens usuários em um mercado de IA competitivo.
Ponto Central
IA na Infância: Uma Nova Fronteira
Imagine uma criança de 10 anos pedindo ajuda com a lição de casa, criando histórias fantásticas ou explorando curiosidades sobre o universo, tudo com a ajuda de um assistente digital. A partir da próxima semana, isso será realidade para crianças menores de 13 anos com contas supervisionadas pelo Google Family Link, que poderão acessar o chatbot Gemini, segundo o The New York Times. Essa decisão do Google marca um momento pivotal na integração da inteligência artificial (IA) na vida de jovens usuários, mas também levanta questões sobre segurança, privacidade e o impacto da IA em mentes em desenvolvimento. Com a competição acirrada no mercado de chatbots, o Google está apostando em capturar um público jovem, mas será que as crianças estão prontas para interagir com a IA?
O Gemini, lançado como parte da família de modelos de IA do Google, é um chatbot versátil que pode responder perguntas, auxiliar em tarefas escolares e até gerar conteúdo criativo. Diferentemente de assistentes como o Google Assistant, o Gemini é projetado para interações mais complexas, usando modelos generativos de IA que produzem respostas humanizadas. Para crianças, o Google promete uma versão com ‘guardrails’ específicos, que limitam conteúdos inadequados e protegem os usuários mais jovens. Os pais, por meio do Family Link, poderão gerenciar permissões, decidir se o Gemini será o assistente padrão e monitorar o uso, recebendo notificações quando a criança acessar o chatbot pela primeira vez. Mas, como o próprio Google reconhece, ‘o Gemini pode cometer erros’, e os pais são incentivados a ensinar seus filhos a verificar fatos e evitar compartilhar informações pessoais.
Como o Gemini Será Usado por Crianças?
A integração do Gemini para menores de 13 anos é feita por meio do Family Link, um serviço que permite aos pais configurar contas supervisionadas, definindo limites de tempo, filtros de conteúdo e permissões para serviços como YouTube e Gmail. Para ativar o Gemini, os pais fornecem dados como nome e data de nascimento da criança, e o chatbot será acessível em dispositivos Android, iOS ou pela web. Segundo o Google, as crianças poderão usar o Gemini para:
Ajuda com Lição de Casa
Resolver problemas de matemática, explicar conceitos de ciências ou sugerir ideias para redações.
Criação de Histórias
Gerar contos personalizados, como uma aventura de dragões, com base em prompts simples.
Respostas a Curiosidades
Responder perguntas como ‘Por que o céu é azul?’ ou ‘Como os dinossauros foram extintos?’ com linguagem acessível.
Por exemplo, uma criança pode perguntar: ‘Como faço uma redação sobre o sistema solar?’ O Gemini pode sugerir uma estrutura, fornecer fatos sobre os planetas e até criar um esboço inicial. Em outro caso, um aluno pode pedir ajuda com frações, e o chatbot pode explicar o conceito com exemplos visuais e exercícios interativos. Esses usos destacam o potencial educacional do Gemini, mas também mostram os riscos: respostas incorretas ou conteúdo inadequado podem passar despercebidos, especialmente por usuários tão jovens.
Por Que o Google Está Fazendo Isso?
A decisão de abrir o Gemini para crianças reflete a corrida das empresas de tecnologia para dominar o mercado de IA. Como aponta o The New York Times, ‘os desenvolvedores de chatbots estão competindo para capturar audiências mais jovens’ em meio à intensificação da ‘corrida da IA’. O ChatGPT da OpenAI, com cerca de 600 milhões de usuários mensais, e o Meta AI, com quase 500 milhões, lideram em popularidade, enquanto o Gemini tem 350 milhões de usuários ativos mensais, segundo dados de março de 2025 revelados em um processo antitruste do Google. A exposição precoce à IA pode fidelizar usuários, criando uma geração que cresce familiarizada com os produtos do Google.
Além disso, há um argumento educacional. Um estudo Google-Kantar de 2025 na Índia mostrou que 95% dos estudantes que usaram ferramentas de IA generativa sentiram mais confiança em seus estudos, e 84% usariam IA para tarefas escolares. Nos EUA, milhões de adolescentes já usam chatbots como auxiliares de estudo ou companheiros virtuais, e o ex-presidente Trump defendeu recentemente o uso dessas ferramentas na educação. O Google acredita que ensinar crianças a interagir com IA pode desenvolver habilidades de pensamento crítico e alfabetização digital, preparando-as para um futuro onde a IA será tão essencial quanto a leitura ou a matemática.
Vantagens e Desvantagens do Gemini para Crianças
Para avaliar o impacto dessa iniciativa, vejamos os pontos positivos e negativos:
Preocupações com a Segurança e o Bem-Estar
Embora o Google prometa não usar dados de crianças para treinar seus modelos de IA, a coleta de informações pessoais, como nome e data de nascimento, levanta questões sobre privacidade. Um relatório da Common Sense Media de abril de 2025 alertou que chatbots de IA podem ‘encorajar comportamentos prejudiciais, fornecer conteúdo inadequado e exacerbar condições de saúde mental’ em menores de 18 anos. Casos como o do Character.ai, onde jovens confundiram chatbots com pessoas reais, e relatos de conversas sexuais com o Meta AI destacam os riscos de interações não supervisionadas. O Google recomenda que os pais ensinem às crianças que o Gemini não é humano e que evitem compartilhar dados sensíveis, mas especialistas, como a Dra. Anureet Sethi, da Trijog, alertam que crianças imaginativas ou isoladas socialmente podem ter dificuldade em distinguir IA de humanos, o que pode afetar suas expectativas em relações reais.
Contraponto
A introdução do Gemini para crianças é controversa. Organizações como a UNESCO defendem regulamentações rigorosas para o uso de IA generativa na educação, incluindo limites de idade e proteção de dados, devido aos riscos de conteúdo inadequado e desinformação. Um relatório da Common Sense Media destacou que chatbots podem exacerbar problemas de saúde mental em jovens, enquanto o Wall Street Journal revelou falhas em filtros de outros chatbots, permitindo conversas inadequadas com menores. Especialistas em saúde mental, como a Dra. Anureet Sethi, alertam que crianças podem desenvolver expectativas irreais sobre relações humanas, esperando respostas rápidas e não emocionais como as dos chatbots. A privacidade é outra preocupação: mesmo com garantias do Google, a coleta de dados pessoais de crianças é vista como arriscada, especialmente sem leis específicas em muitos países, como a Índia, onde a regulamentação de IA para menores ainda está em rascunho. Além disso, a dependência de IA para tarefas escolares pode desencorajar o pensamento crítico, criando uma geração que confia demais em respostas automatizadas.
Visão do Futuro
Até 2026, o uso de chatbots como o Gemini por crianças pode se tornar comum, especialmente em países com alta adoção de tecnologia, como os EUA e a Índia. O Google planeja expandir as capacidades do Gemini, integrando-o a serviços como Google Photos e YouTube, o que pode torná-lo ainda mais atraente para jovens. No entanto, o sucesso dependerá de regulamentações robustas que protejam a privacidade e garantam filtros eficazes. Concorrentes como OpenAI e Meta também estão investindo em IA para jovens, intensificando a competição. Escolas podem adotar chatbots como ferramentas padrão, mas isso exigirá treinamento para professores e pais, além de políticas que equilibrem inovação com segurança. O futuro da IA na educação pode ser transformador, promovendo aprendizado personalizado, mas apenas se os riscos emocionais e éticos forem abordados com cuidado.
Minha Opinião
A iniciativa do Google de abrir o Gemini para crianças menores de 13 anos é um passo ousado que reflete o potencial da IA para transformar a educação, mas também expõe lacunas significativas em segurança e regulamentação. Como pesquisador, vejo benefícios claros no uso supervisionado do Gemini, como o apoio a tarefas escolares e o desenvolvimento de alfabetização digital, que podem preparar as crianças para um futuro dominado pela tecnologia. No entanto, os riscos — desde erros factuais até impactos emocionais e preocupações com privacidade — são sérios e não podem ser subestimados. A ausência de leis específicas para proteger menores em muitos países, combinada com a dificuldade de crianças em distinguir IA de humanos, exige cautela. Acredito que o Google deve investir em filtros mais robustos, transparência sobre dados e programas educacionais para pais e professores. A IA pode ser uma aliada poderosa na educação, mas somente se implementada com responsabilidade, priorizando o bem-estar das crianças acima das ambições comerciais.
Fontes
- Google will soon start letting kids under 13 use its Gemini chatbot – TechCrunch
- Google Plans to Roll Out Gemini A.I. Chatbot to Children Under 13 – The New York Times
- Google is going to let kids use its Gemini AI – The Verge
- Kids under 13 will soon get supervised access to Google Gemini – Engadget
- Google to Allow Children Under 13 to Use Gemini AI Chatbot – MediaNama
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